(Lenda índigena)
A noite estava guardada no fundo do mar…
Aconteceu, porém, que a filha da Cobra Grande se casou e disse ao marido:
- Meu esposo, que vontade tenho de ver a noite!
O marido explicou-lhe:
- Minha mulher, há somente o dia.
- A noite existe, sim! Meu pai guarda-a no fundo do mar. Mande seus criados buscá-la, respondeu a mulher.
Os criados partiram ligeiros em busca da noite. A Cobra Grande ouviu-lhes, atenta, a pedido e entregou-lhes um côco de tucumã, avisando-os:
- Muito cuidado, amigos! Muito cuidado. Se este côco se abrir, tudo escurecerá e todas as coisas se perderão.
Dentro do côco havia algo que fazia um barulhinho assim: xê-xê-xê… tem-tem-tem…
Curiosos, os criados abriram o côco de tucumã e tudo escureceu.
A moça disse então, ao marido:
- Seus criados soltaram a noite.
O marido, assombrado, perguntou-lhe:
- Que faremos? Precisamos salvar o dia!
A filha da Cobra Grande então arrancou um fio de seus cabelos dizendo:
- Olhe meu marido. Com este fio vou separar o dia da noite. Feche os olhos… Agora pode abri-los e repare. A madrugada já vem chegando. Os pássaros cantam anunciando o sol.
Mas quando os criados voltaram, a filha da Cobra Grande, encolerizada, transformou-os em macacos, como castigo pela infidelidade.
Assim surgiu a noite.
Assim surgiram os macacos.