Desde os primórdios da História, os seres humanos tem buscado e explicado a divindade através da natureza. Na bruxaria esta tradição permanece.
Atualmente, quando falamos no criador de todas as coisas, nos referimos sempre a uma imagem masculina, chamada de Deus. Ainda hoje prevalece o antigo conceito machista da sociedade.
As bruxas veneram uma Deusa, considerando a entidade feminina como a principal, representada pela mãe natureza, ou seja, a “Grande Mãe”. A deusa é representada também pela lua, chamada neste caso de “Deusa Tríplice”, ou Hécate, da mitologia grega.
Além de uma deusa, veneram também um deus, porque somente com a união do feminino e do masculino é que se estabelece um equilíbrio. Este deus é representado pelo sol. Podemos chamá-lo de “Deus Cornífero”, ou Dioniso, da mitologia grega. Na verdade são inúmeros os nomes que podemos atribuir a Deusa e ao Deus.
Quando falamos da Deusa devemos sempre lembrar que ela não existe apenas no céu ou, em outras palavras, no “mundo dos deuses”: a Deusa está dentro de cada um de nós.
Muitas bruxas utilizam o termo “Grande Mãe” para se referir a Deusa, mas ela pode ser representada por qualquer outra deusa que pertença a uma cultura diferente: as deusas da mitologia grega, da mitologia romana, da bíblia dos cristãos, das culturas afro-brasileiras etc. Não importa a forma como ela é representada e sim o respeito que atribuímos a ela.
Na bruxaria, quando a Deusa toma a forma de lua é chamada de Deusa Tríplice porque a lua possui três fases principais, sendo que a quarta fase (lua minguante) é o intervalo existente entre um ciclo e outro.
O Deus Cornífero, pelo fato de possuir chifres, é denominado como uma entidade do mal pela cultura cristã, sendo confundido com o Diabo. Mas todas as bruxas sabem que isto é um grande erro: primeiro porque o Deus Cornífero não é uma entidade do mal e, segundo, porque os seus chifres representam nada mais do que Sua sabedoria divina, o inconsciente profundo das pessoas e a força criadora do mundo. Seu símbolo é fálico, puro, natural, instintivo e primordial.
No começo isto pode parecer meio estranho, mas o Deus Cornífero faz primeiro o papel de amante da Deusa, para que esta possa engravidar e dar a luz o próprio Deus Cornífero, que neste momento faz o papel de seu filho e, quando cresce, toma novamente a forma de seu amante. Com esta lenda aprendemos que a entidade feminina é única e a entidade masculina também é única. Ambos juntos formam as forças do cosmo. Esta lenda tem profundos significados e é explicada detalhadamente nas passagens dos sabbaths. Nos sabbaths celebramos as quatro estações do ano e suas passagens, com base na lenda da criação, ou seja, da relação do Deus e da Deusa. Nessas celebrações aprendemos que a transformação da natureza é reflexo da transformação do espírito.
Os deuses da bruxaria podem ser descritos de várias formas, mas na verdade eles não possuem uma forma corpórea e não são deuses falsos que foram criados para enrolarem as bruxas desorientadas.
Os nossos deuses são os símbolos que mais podem representar a natureza humana e cósmica do anima (forças femininas) e do animus (forças masculinas), porém não separados já que fazem parte da criação de um “todo”.
O “todo” é uma força total e infinita, que está presente em todas as formas, espaços e tempos. É uma força criadora e ao mesmo tempo existencial, é o cosmo e o caos, é a força que vem do “nada”, é a origem do círculo da Deusa e do Deus. Por ser uma união de todas as forças, cada um de nós formamos uma parte que compõe essa mente única e onipresente. É por isso que estamos interligados uns aos outros.
O mecanismo de funcionamento do Universo existe porque dependemos um do outro, um acontecimento se origina de outro. Enfim, é um mecanismo “circular”. Na bruxaria, tudo o que termina, volta a começar.
Bom, nem eu nem ninguém é capaz de explicar exatamente o que é o Universo. Afinal, isto será sempre o maior dos mistérios.